Capa da VEJA dessa semana |
De Rio Doce, para a
redação de VEJA (com informações de Camaragibe)
A
ausência do outrora capitão rosado é sentida na sociedade jornalística pernambucana desde junho do ano passado. Esperado para
receber a medalha de prata na festa final da Copa Paulo Francis 2014
juntamente aos seus colegas de time, Márlon Diego de Oliveira não
apareceu naquela noite nem deu sinal de vida em nenhuma dos meses que
se seguiram ao fatídico dia da final, seja no Centro de Artes e
Comunicação da UFPE ou na Arena Setúbal of Confrontation. Os
boatos eram de que, envergonhado com o pênalti perdido que havia
levado o FDM a amargar o vice-campeonato, o então tesoureiro da Copa
Paulo Francis resolvera passar um tempo sozinho até
conseguir superar o trauma. No início do ano, ele deu fim à sua
reclusão surpreendendo a todos ao se entregar para a polícia
confessando que estava por trás do esquema que o FDM realizou
juntamente com o MBP para ajudar a levar o time azulado para a final.
Os tempos de alegria em campo do capitão rosado ficaram no passado |
Condenado
a sete anos e onze meses de prisão por crime de corrupção, o
atleta passa hoje maior parte do tempo na biblioteca do
presídio do Cotel, onde está cumprindo sua pena. Porém desde a
semana passada, Márlon tem mantido conversas com o seu advogado com
maior frequência. A razão foi revelada na última terça-feira
(24), quando o ex-tesoureiro solicitou um acordo de delação
premiada. Em sua primeira sessão de depoimentos, Márlon estava
bastante agitado. Logo de cara, falou para o delegado:
Márlon:
Tá na hora de falar pra vocês tudo que a turma tá aprontando.
Delegado:
Você se refere ao jogo entre FDM e MBP na CPF do ano passado?
Márlon:
Não só esse, né. Teve vários outros. Na verdade isso rola desde
2013, quando ele entrou.
Delegado:
Ele? Você quer dizer o MBP?
Márlon:
O MBP todo não, homem. É Wagner. Ele é o cabeça do esquema.
A partir
daí, Márlon seguiu com seu depoimento durante duas horas. O
conteúdo, apurado com exclusividade por VEJA, revela o maior esquema
de corrupção da história da Copa Paulo Francis que, se for
confirmado, justificaria o primeiro impeachment da história da
competição.
Desde que
entrou no curso de jornalismo, em 2013, Wagner sempre passou uma
imagem de agregador. Durante os dois anos que se seguiram, enquanto
outros membros de sua turma se envolviam em vários desentendimentos
com os outros participantes da copa, ele sempre procurava manter as
amizades. Alguns exemplos disso são a sua relação de longa data
com a goleira do DPC, Beeb, mesmo com os atritos entre Decopi e o
MBP. Mas, debaixo dos panos, o presidente se revela uma figura com
uma sede de poder que chega a assustar os desprevenidos.
“Wagner
é muito esperto. Se faz de amiguinho de todo mundo, mas na verdade
só quer o poder”
Daniel Ferrugem foi uma das primeiras pessoas com quem Wagner criou vínculo |
Se, para
alguns, a chegada de Wagner na presidência em 2015 era algo natural,
quem teve a oportunidade de acompanhar todo o processo sabe que foi
tudo extremamente calculado. A aproximação com os ex-presidentes
Maurício e Daniel Ferrugem (vide foto), a amizade com os doleiros
DGO e Caio Wallerstein e até mesmo os atritos entre o MBP e as
outras salas. Nada passa despercebido pelo presidente, que arma
várias arapucas para se manter no topo.
De acordo
com Márlon, foi o próprio Wagner quem sugeriu que Sibito jogasse a
final pelo FDM. Foi ele quem pressionou Márlon para que ele errasse
de propósito o pênalti contra o BJU, procurando usar o título dos
então calouros para se promover. E se alguns pensam que ao menos o
MBP estaria livre de suas falcatruas, eles estão redondamente
enganados. Segundo a delação do ex-tesoureiro, Wagner estaria
mancomunado com Decopi e Caio Wallerstein no polêmico lance da mão
de 2013, do qual seus colegas de turma reclamam até hoje. Tudo isso
com o objetivo de alcançar a presidência.
O título do BJU foi utilizado por Wagner para alimentar seu capital político |
“O
negócio é morde e assopra. O cara tira daqui, bota ali, e vai
agradando um e o outro só pra conseguir o que quer. É fogo o cara
errar um pênalti daqueles e deixar os calouros ganharem”
Agora que Wagner alcançou presidência, Márlon não tem certeza do que ele será
capaz. Porém, VEJA conseguiu alguns indícios de que o presidente
estaria organizando um grupo intitulado CRIAÇÃO PAULO FRANCIS, com
o pretexto de coordenar os meios de comunicação da Copa, mas que na
verdade é uma tentativa de censura àqueles que se opõem a ele. O
esquema, que envolveria a mudança do local da copa de Setúbal para
o centro do Recife para supostamente “facilitar o acesso à
competição”, não está sendo bem visto nem mesmo por membros do
MBP. Nathallia Fonseca, colega de turma de Wagner que costumava
ironizar os pedidos de impeachment do presidente, parece ter mudado
de ideia e aderido à oposição.
Existem dissidentes de Wagner até mesmo no MBP |
Procurado
pela reportagem de VEJA, a nova diretoria da CPF e assessoria do
presidente não quiseram comentar o caso. Já nas redes sociais,
cresce o clamor da oposição pela instauração do processo de impeachment do
presidente.
Confira na VEJA desta semana uma análise completa do cientista político João Pascoal sobre o futuro da CPF.