Eu me lembro de ti, colegial, desencontros. Tu arisca ias para um canto e eu, iludido, acabava no outro. Ainda bem que meu coração jamais se ofendeu com as nossas desavenças, bola querida. Éramos, no fundo, naquelas peladas de quintal, dois aprendizes de ilusão trocando senhas de vida no comecinho da vida. Bola que corre pelos meus sonhos de menino. Da nossa infância eu guardo sempre a alegria sexual de ter te abraçado algumas vezes – poucas –, encerrando no meu peito de goleiro inglório a paz na lua e a luz do sol.
Brincar contigo é descobrir a harmonia e o equilíbrio do Universo. Brincar contigo é brincar com Deus, de cuja plenitude nasce a esfera – a inspiração da bola. Bola é magia, bola é movimento, é vida nas mãos de uma criança. Louvado o homem que faz da bola parceira e cúmplice de seu próprio destino. A bola, na minha infância, é uma saudade concisa, que vem rolando comigo de campo em campo pelos caminhos do tempo.
Um dia, antes do derradeiro apito, ela há de morrer – como um gol – no fundo do meu coração.
segunda-feira, 29 de março de 2010
A Bola, texto de Armando Nogueira
1 Comentários
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Uma verdadeira ode ao membro mais importante do jogo de futebol. Emocionante já no papel, nas palavras de Paulo José esse texto soa sublime, devia se institucionalizar como a descrição definitiva do objeto "bola".
ResponderExcluirAbraços,
Diogo.