Explosão Laranja

Ganhamos!

Parece pedante dizê-lo assim, em uma linha. Resumir uma série de conquistas, cada qual com valor inestimável, a uma palavra - que soa insuficiente para nós e arrogante para os nossos adversários - é vulgarizar a magnitude de uma vitória que é grande, para não dizer imensa. No final das contas, é só uma forma despretensiosa de dizer a verdade do que aconteceu da forma mais pura que podemos. Na simplicidade repousa a classe. Ganhamos a CPF, porra!

A sensação é intoxicante. A princípio, um fervor toma conta de si, você reage com pulos e gritos, mas não consegue ainda racionalizar o feito. O seu corpo, fatigado do jogo e, em alguns casos, açoitado do martírio que é uma final, se move sem ordenação do cérebro e, quando você se toca, está envolvido por uma energia de coletividade inacreditável. Finalmente: ganhamos. É um fato!

Essa sensação não vai embora por um tempo. Eu (e este é um exemplo particular, mas que acho que dá para representar a sensação), após o jogo, fui me arrumar para a festa. Saí na rua e tudo parecia ser laranja. Andei numa calçada laranja, observando o povo laranja passar, os carros laranjas à toda velocidade e os gatos - não pardos, mas laranjas - desviando deles, tudo isso sob um céu laranja, ornado de estrelas laranjas de vitória. A euforia monocromática subiu a um ponto orverdósico. Também escutava o barulho da rua, as motos arranhando um "ruuun, ruuun", um vira-latas rosnando "ruuun" e a minha barriga me demandando comida, num "ruuun" quase imperceptível. E uma voz ecoando na minha cabeça: "ganhamos!".

Tal euforia só pôde ser alcançada por conta da tensão da partida, do final dela, em particular. Segundo nosso zagueiro, Vítor, "ver Terni segurando com toda firmeza seu escapulário e rezando, a concentração de Rafael, o olhar nervoso de André, a cara aflita de Eduardo, as meninas abraçadas, Aline sem querer olhar, Dora vestida com a camisa, Márcio mais do que concentrado..., caramba, eu pensei que não ia aguentar! Quando Rafael agarrou o pênalti, eu pensei que ia explodir!". A primeira das bombas que já existiu foi provavelmente essa, que consiste em converter tensão em euforia, gerando uma explosão de alegria. Se tal descoberta pudesse ser teorizada, teríamos a fórmula da catarse.

Mas, por enquanto, a gente só tem a fórmula para um grande time. Cada um de nós é mais do que uma ordinária engrenagem contribuindo para o funcionamento da Laranja Mecânica. Somos humanos capazes de ir além do trabalho que a nós foi deferido. Fazemos um futebol mais do que bom: sincero, comprometido, de superação. Nós, meninos e meninas vencedores do RUN, fazemos um futebol de coração, o futebol campeão do RUN.

André Valença