Eduardo Cazuza
É verdade que no formigueiro os sonhos são obrigatórios?*
Aí vai um caso de pouca repercussão, mas que merece ser esmiuçado. Não é daquelas histórias com começo, meio, fim e lição de moral. Talvez tenha só começo e meio, e olhe lá. Lição de moral, alguns dizem que têm várias, outros duvidam que exista se quer uma só. Não é um fato de alto teor noticiável, apesar de ser estar embebido de jornalismo. É um caso pequeno, do tamanho de um formigueiro, mas que já perdura há oito anos devido às suas corajosas formiguinhas.
Rege a lenda de que tudo começou quando duas turmas de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco marcaram uma pelada. Tudo muito informal, ao estilo futebol, cerveja e conversa. A brincadeira foi se repetindo até que se teve a idéia: “vamos fazer um campeonato”. E assim fizeram. Naquele momento, mesmo sem se dar conta, aqueles seres peladeiros e cervejeiros decidiram também transformar-se em formigas. Cada um deles teria uma pequena função na organização daquela pelada organizada e a cumpriria com toda eficiência possível. E assim fizeram mais uma vez. Estava nascendo aí a pouca conhecida, porém muito amada, Copa Paulo Francis. A escolha do nome gerou polêmica. Houve os concordantes e os discordantes. Mas assim ficou: Copa Paulo Francis. Há quem diga que é uma discussão ultrapassada devido ao fato da Copa, apesar de não ser muito conhecida, ter se tornado mais importante do que o próprio Paulo Francis.
Mas voltando às formigas... Para toda primeira missão cumprida com gosto, surge uma segunda missão. E a segunda missão era bem parecida com a primeira: a segunda edição da Copa Paulo Francis. E assim fizeram outra vez. Com o já buraco escavado, as formigas decidiram transformá-lo em formigueiro. A comissão organizadora aumentou, as funções foram distribuídas de forma mais horizontal, o setor financeiro se comprometeu em arrecadar mais dinheiro, e o pequeno formigueiro foi tomando forma. Com o passar do tempo, as formigas antigas foram ensinando às mais novas como cuidar daquele precioso buraco, e essas, cheias de gosto, se comprometeram em alargar os metros cúbicos daquela casa. Hoje, oito anos depois, a pequena pelada transformou-se num campeonato de seis semanas. Ou melhor, são dois campeonatos. Pois somou-se ao pequeno formigueiro a Copa Patrícia Poeta, disputada pelas garotas do mesmo curso de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco. A discussão do nome também não vem ao caso. São 10 times disputando os dois títulos de campeões durante seis semanas seguidas. Todos os estudantes abrem mão de seus compromissos de sábado a tarde para se fazerem presentes na copa. Tem equipamento de som, narração ao vivo dos jogos, fotógrafos de altíssima qualidade, vídeos, resenhas, expectativas, musa, muso, craque, medalhas, troféus, camisas personalizadas e uma festa a cada final de semana. As formiguinhas dão tudo de si para que o evento aconteça da forma mais impecável possível. Cada um se responsabiliza por uma função, por menor que seja. Um leva o som, o outro traz, um organiza as festas, o outro arrecada os pagamentos. São cargos que vão desde Presidente até Secretário de Eventos Especiais.
O mais lindo é ver as formiguinhas trabalhando. Os olhos brilham a cada missão cumprida, a cada nova idéia para incrementar o formigueiro. Todos almejam a dourada taça de campeão, e fazem de tudo para consegui-la. Indo além de qualquer jogador profissional, os peladeiros da Paulo Francis, se necessário, jogam com braço engessado ou pé quebrado, mesmo que seja abraçado em uma das traves para dar um apoio moral ao time. Entre as cenas mais bonitas da Copa, está a de um goleiro lesionado que a cada defesa chorava de dor. Uma formiga brava que não arredava da baliza por motivo algum. Quem ouve falar, se pergunta: E o que ganha o vencedor da Copa? Que sonho é esse que tanto motiva essas tais formigas? Bem, essas são perguntas que ficam sem resposta, pois a história da Copa Paulo Francis ainda não tem fim nem lição de moral clara. Mas há os arrisquem dizer que o sonho que motiva os garotos que custeiam, realizam e participam da tal competição é o de realizar algo grandioso para si mesmo. Algo que possa ser compartilhado com sinceridade com quem construiu aquilo ao lado de mais alguns. São como formigas mesmo, que guardam consigo a imensidão que existe dentro daquele buraquinho. Para os de fora, sempre será só um formigueiro. Só mais um pequeno buraco no chão. Mal sabem esses de fora que a loucura que acomete as formigas nas suas obrigações é a loucura mais válida do mundo. Apenas porque elas, e apenas elas, podem compartilhar com suas verdadeiras companheiras o seu próprio formigueiro.
Talvez essa seja uma lição de moral que a Copa Paulo Francis deixe. Fazer algo grande apenas para quem está disposto a viver e se esforçar por aquilo. Fazer algo grande para quem é pequeno o suficiente para entrar no formigueiro. Seria um boa lição. Não pensar em glamour, lucro ou repercussão em mídia. Construir algo apenas para os que construíram. Seja uma copa, um jantar, uma música, uma casa, um castelo de areia na praia ou um formigueiro. Talvez assim os sonhos surjam mais facilmente, sejam eles obrigatórios ou não. Parabéns formigas!
*Pergunta extraída do “Livro das Perguntas”, de Pablo Neruda
Nunca mais mato uma formiga na vida. Vai saber se a folha que ela tá levando não é 1 real pra dar pra Formiga-Magal do formigueiro?
ResponderExcluirAgora é sério: texto brilhante, Cazuza. Brilhante.
ResponderExcluirLindo, cazu! Muito mermo, cada formiga foi fundamental esse ano, mesmo as que não tinham cargos ou funções definidas. E lorena, se garantiu no comentário, ri muito aqui! hahahahaha!
ResponderExcluirSe garantiu mesmo, negavéa!ri mto!
ResponderExcluire Cazuza, texto lindo! parabéns :)
só quem tá dentro do formigueiro sabe o quão grandioso ele é.
Como assim, Cazuza, tá delirando? A gente é, literalmente, a maior competição do planeta.
ResponderExcluirMassa, Cazuza! Parabéns! :D
ResponderExcluirSimplesmente PERFEITO, LINDO, SUBLIME!
ResponderExcluir;***
Formiga de cu é rola.
ResponderExcluirPAUNOCUDOANÔNIMO ↑
ResponderExcluirQue lindo, Cazuza!
ResponderExcluirO orgulho que dá ser uma dessas formigas só nós do formigueiro Paulo Francis sabemos! Avante, CPF/CPP!