segunda-feira, 27 de abril de 2009

Futebol Poesia ou um Estupro no Lemon

Em 1970, depois de assistir à Itália sucumbir por 4 a 1 diante do Brasil na final da Copa do México, o cineasta Paolo Pasolini declarou que havia equipes que jogam em prosa, e outras, em poesia. O futebol em prosa é argumentativo, coeso, narrativo. O arqueiro sai jogando com os laterais, volantes, depois com os meias, que cruzam para a conclusão do argumento, o gol, pelo atacante. O futebol em poesia é descritivo, sugestivo, joga pelos meios e não pelos fins – embora também os alcance.

O PDF pratica esse futebol em extinção. Em referência ao escrete holandês comandado por Johan Cruyff, em 1974, alguns cunharam a equipe de “o Limão Mecânico”. Outros chamam de futebol-psicodélico a modalidade jogada pelo time. A verdade é que há pouco de previsível na dinâmica do PDF, a começar pela escalação do time, que entrou sem seu capitão Eduardo Cazuza (enquanto a partida acontecia, o jogador encenava um espetáculo, no Teatro Hermilo Borba Filho, trajando, por debaixo do figurino, um uniforme do PDF). Em seu lugar, mais um atacante: Chico. Os jogadores se revezaram em suas posições, formando um carrossel fantástico, envolvente e sedutor. Durante os 25 minutos de partida, o PDF justificou o fato de ter sido apontado como o favorito para a conquista do caneco em 2009.

Não demorou para as redes do BAU estufarem, à cobrança de falta de Anderson, que desviou no defensor e entrou. O segundo gol veio logo em seguida. Pedro Paulo arrancou em contra-ataque, abriu na direita para Luiz, que só teve o trabalho de empurrar para dentro das redes de Nilton AJ. Os amarelos ainda diminuíram no primeiro tempo, com um despretensioso chute do meio de campo. De tão inofensivo, o chute entrou. O comentário nas mesas redondas pós-jogo foi que o goleiro Gustavo Taipa permitiu a pelota entrar, em protesto à atuação do goleiro Eduardo, do Náutico, que protagonizou lance similar no jogo contra o Criciúma, pela Copa do Brasil. Protesto feito.

A equipe voltou mudada para o segundo tempo. Rafael para o lugar de Chico prometia um PDF ainda mais ofensivo. Num dos primeiros lances, Luiz marcou talvez o mais belo gol da rodada. O meia passou a perna por cima da bola, fintando o adversário, e, à risca de cal do meio de campo, disparou a bola, que só pararia quando abraçada pela rede do ângulo direito do goleiro. “Luiz parece jogar de terno e gravata, tamanha a elegância”, comentou alguém na torcida. Uma cueca samba-canção, porém, lhe bastou para fazer o estrago. Daí em diante, distribuiu passes, cadenciou o jogo.

Foi o momento em que começou a brilhar a estrela de Anderson, o craque do time, que ainda teve tempo de marcar dois gols. Pelo menos um deles entra para o rol dos mais bonitos tentos da história da Copa Paulo Francis. Após receber o passe de Rafael, Anderson, num lampejo ao estilo Ronaldo Fenômeno, só precisou da sutileza de um toque para encobrir o goleiro Breno. Estava aberta a porteira. O BAU, destroçado, aberto, remexido, vasculhado. Nada foi encontrado da orgulhosa equipe que achou que seria possível medir forças com o PDF.

Ainda houve tempo para Rafael marcar o gol que enterraria o BAU no jogo. Se alguns dizem que o gol é o orgasmo do futebol, Rafael estava lá para ilustrar que não se trata apenas do gozo. A bola custou a entrar. Foi preciso pelo menos cinco tentativas para fazê-la cruzar a linha do tabu, e para mostrar que o gol é, na verdade, um estupro, em que uma das partes obstinadamente se nega a receber, enquanto a outra se desdobra, ameaça, imobiliza, chantageia pra colocar dentro. Rafael colocou e gastou seu último tostão de oxigênio na disparada de sua comemoração.

O apito anunciou o fim do primeiro soneto que o PDF escreveu no campeonato. De um total de seis, espera-se. Que, em homenagem aos camaradas e irmãos do VTU, o próximo seja regado a uma lapada de pinga. Com limão.
Comentários
6 Comentários

6 comentários:

  1. A gente não fez só um gol.

    Abraços,
    Diogo.

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  2. A maior emoção de uma conquista é o olhar de concretização da felicidade entre os companheiros de uma equipe. Mesmo de longe, olhei por vocês. Não pude gritar a cada gol, mas quando soube da vitória gritei por todos eles e por ter concretizado que faço parte de uma das maiores equipes da história do futebol.

    Avante PDF!

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  3. Cadê as fotos da rodada?

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  4. Cadê as fotos da rodada?

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  5. Que fique claro que, antes dos 6, fizemos o 2, com um chute bem alemão, que entrou sem chances para o goleiro (não por causa do chute, mas por causa da mão furada do sujeito), numa jogada que ficou batizada como O Salsichão do Alemão (só Túlio e Gustavo sabem o porquê). E depois, Fábio, a arma secreta, fez bela jogada e chutou cruzado de canhotinha, sem chances para o Mão Furada. Fábio é o novo Rivaldo.

    Abraços,
    Diogo.

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