segunda-feira, 7 de abril de 2008

RYU 0 x 3 MAA - digno tropeço.

Aguardado por meses, veio a nós o momento de pisar o gramado e abrir a CPF – 2008. O suor corria o rosto, o sapato apertava, o sol queimava, a cerveja já ia quente... mas nada. Onde estaria Wagner? Será que o fato de, pela sua conta pessoal, estar perto de marcar os 50 gols na competição, achava ele que poderia atrasá-la? Foi provado que sim; pelas questionáveis vias burocráticas, a Paulo Francis fez-se menor do que seu jogador, e esperou.

Minutos passados a gosto, e temos sua presença em campo. Exasperado, com o pé a implorar pelo início da partida, já inquieto, pergunto com impaciência: “Você é Wagner?”, o que, narrado posteriormente pela perspectiva vencedora (?), transformou-se em uma reverência intimidada. Longe, longe disso.

Par-ou-ímpar ganho, começaríamos com a posse de bola. Restava um porém: Davi, a presença agregadora da equipe, aquele que providenciou transporte e empolgação para o treino secreto em Boa Viagem, e titular absoluto, não estava lá. Estava, sim, resolvendo questões referentes à festa da qual nos foi dada a responsabilidade de lidar. Mais uma vez, víamos-nos prejudicados pelas trâmites legais da competição. Sem nosso principal apoio, perdemos também nosso chão, nossa fé. Olhava meus companheiros, e em seus olhos nada via além de dúvida e medo. Os segundos de tensão antes do apito inicial tiveram sua tradução no comentário de Aaron, que poderia ter sido feito por qualquer outro de nós: “Daniel, vê... você vai tocar pra mim... e eu toco pra quem?”. Compreendia sua apreensão, pois dela compartilhava, e respondi, paternalmente, fingindo uma segurança que não sentia: “Aaron... pra qualquer um”. E assim foi.

Tocou a bola meus pés, os de Aaron, e chegou, com esmero, aos de Matheus, jogador-símbolo de nosso time, portador da faixa vermelha de Ryu. Poderia esperar qualquer coisa que não fosse o que veio a acontecer: negando, com bravura, o medo comum, Matheus fez a única coisa que poderia desfazer o sentimento de impotência do time. Uma, duas, três, quatro pedaladas, que, apesar de não terem durado mais do que poucos segundos ao relógio, me foram suficientes pra pensar: “O que é que Matheus está fazendo, pelo amor de...” e recebi a bola. Era isso. Estava iniciada a partida, e a jogaríamos da melhor forma que pudéssemos.

Contrariando as probabilidades, o primeiro tempo foi de uma disputa feroz, no qual mostramos a que viemos. Aaron por pouco não marca, Rafael fechava o gol, e, quando não, contou comigo para, em um carrinho de precisão cirúrgica, interceptar a bola que abriria o placar. Peterson mostrou-se valoroso zagueiro. Matheus arquejava pelos cantos, em solidariedade com o jogador que marcava, e por ele era marcado. Cansamos, suamos, seguramos o placar. Fim de tempo, trabalho bem feito. Wagner, a lenda, o mito, anulado. Em um ato de nervosismo explícito, tropeçou atabalhoadamente na rede, indo ao chão. Em solidariedade e respeito, dei-lhe a mão, o ergui.

Devido ao atraso já citado, não houve o necessário intervalo, e nosso corpo, vindo de um ano de maratona sedentária vestibulânea, pouco agüentava. Mas resistimos. Tínhamos de resistir.

Davi deu o ar de sua graça, assumiu o gol, liberando o leve Rafael para o ataque. Estávamos seguros, estávamos empolgados. Focado, chamei a mim a responsabilidade de liderar o ataque que nos levaria à vantagem no placar. Recebi a bola em nosso campo, avancei, e os espectadores, por alguns segundos, viram em mim a figura de um Kaká turbinado. Não tomei conhecimento do primeiro, por quem passei com zombaria. Passaria também pelo segundo, no quê tive a perna levantada do chão pelo pé mal intencionado do jogador rival. A bola continuou seu percurso, intocada; fui ao chão com uma pirueta que desafiou a física. Conformado, sentei, esperando a marcação da falta. Mas não. Ah, não. Vendo seus companheiros desesperados por nada conseguirem fazer em campo, o juiz decidiu chamar a si a responsabilidade de lhes garantir a vitória, e omitiu-se do lance. Com nosso time estático, a bola foi aos pés adversários, que não tiveram trabalho algum que não empurrá-la ao gol. O resto é História.

Nossas cabeças, que sustentavam bravamente o cansaço do corpo, viram-se, subitamente, devastadas pela injustiça, pelo mau-caratismo do feito. Acaba ali o jogo para nós. Não mais conseguíamos correr, as posições se confundiam. Não fosse toda a água (ou cevada) esvaída pelos poros, certamente estaríamos em lágrimas. Levamos outro, em um contra-ataque vagabundo. Em um último ímpeto, evitei com uma impecável bicicleta outro tento, assim como o fez, de calcanhar, Rafael. Mas nada mais havia a ser feito. O episódio síntese de nossa frustração foi o chute levado por Aaron, à altura da barriga, desferido pelo próprio companheiro Rafael, em meio à confusão generalizada. Outro gol tomado, e fazia-se encerrada a partida.

Uma derrota, sim, porém digna, e dedicada, com todo carinho, para o juiz, esse ente ingrato indispensável aos gramados.


Comentários
10 Comentários

10 comentários:

  1. Resumindo...

    Prazer, Wagner. Eis o mito-mor.

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  2. Ai, finalmente um texto realmente novo. Não sou tão humilde quanto Wagner, mas vamos lá.

    Achei ótima a parte do texto em que você coloca a culpa da derrota no juiz (ok, aceitável), no vestibular (o_O), na festa (???) e na falta de não sei quem (quem mesmo?). Sem contar a insinuação sobre o atraso, sobre a burocracia, sobre o não-intervalo e tal tal tal. Tudo foi armado pra prejudicar o time de vocês. Que injusto, não?

    Agora falando sério, prefiro quando você fala de medo e dúvida, porque me parece mais papo de calouro. Acho que todos os motivos, ou desculpas, aqui listados como responsáveis pela derrota me soam como teoria da conspiração. Durante a leitura até escutei uma música de um seriado famoso. Mas continue assim, porque a verdade está lá fora e daqui pra festa final você vai desmascarar toda essa armação do governo (ou da comissão de organização da copa).

    abraço.

    Ps.: e sábado estarei torcendo para vocês, porque se tem um time que eu quero ver perdendo é o tal do ETC (que deveria ter perdido pro BAU se o juiz não tivesse roubado... todo mundo viu que Luiz deu um golpe de Estado e voltou pro gramado antes do tempo hahahahhahaha).

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  3. Não coloquei culpas, apenas ocasiões desfavoráveis ;)

    Não foi armado nada para nos prejudicar, mas que futebol não inclui uma choradinha dos perdedores?

    E torça, sim, que estamos mordidos e vamos com tudo.

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  4. o juíz sempre rouba e o time roubado é sempre o que perdeu!

    nossa derrota é quase exclusivamente culpa do juíz!

    NÃO TEM NENHUMA RELAÇÃO COM NOSSA FALTA DE HABILIDADE EM CAMPO!

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  5. Ainda bem que, num arroubo premonitório, eu comemorei o segundo gol fazendo o tradicional chororô. =P

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  6. pois o que resta aos derrotados? ;)

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  7. Chorem, calouros, chorem. E se acostumem porque vocês somente vão chorar este ano.

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  8. Tão me perguntando onde vai ser a próxima festa. Calouros, quem se habilita?

    E Rodrigo, esse papo que Luís voltou antes é mais um chororô.

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  9. Quero deixar claro que a arbitragem atuou de acordo com a regra. E a regra é clara. Falta é falta, gol é gol.

    Abraços,
    Diogo, assistente de arbitragem do jogo MAA x RYU.

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