A notícia boa é que o raio-x revelou apenas uma torsão grave, e não uma fratura, como o médico esperava. O alívio, porém, foi subjugado por uma revelação devastadora: “esse uniforme verde, aí... – começou o doutor - se machucou jogando bola, não foi? É, meu chapa, nada de futebol por pelo menos dois meses”. E meu mundo caiu.
“É futebol, meu filho, acontece”, disse minha mãe, ao ver seu filhinho chegar em casa com o semblante pesado e um pé engessado. Falei pouco e me tranquei no quarto, compartilhando com o travesseiro a minha dor e revisitando a cada dose de anti-inflamatório o momento da minha tragédia pessoal.
O segundo tempo tinha acabado de começar e entrei no lugar de Chico. Estávamos à frente no placar, mas a gana e a raça são elementos indissociáveis do espírito de qualquer jogador do PDF, seja perdendo, empatando, ganhando ou goleando. E quando um Verde entra em campo, ele não entra pra brincar. Além disso, havia prometido um gol para alguém especial e não deixaria os gramados sem assinar o meu. Assim pensava...
Logo aos 30 segundos, sem querer perder lance algum, dividi uma cabeçada com um jogador do DPC, que nem lembro mais quem era. Os dois se desequilibraram e foram ao chão. Eu levei a pior: um piso em falso, um ‘creck’ e uma torsão. A dor, nunca antes sentida, seria motivo de choro... “desculpa para um abraço ou um consolo”, disse-me depois Eduardo Cazuza. Mas a camisa verde e a estrela estampada acima do escudo me deu serenidade para encarar a agonia e segurei o choro.
O resto da história é o de praxe. Hospital, casa, repouso, remédio, livro, tevê, dor e tristeza. Este último sentimento gerado pelo fato de não compartilhar dos gramados com meus irmãos de equipe. E pra eles reescrevo um e-mail que enviei para todos, pouco antes do início da copa:
“Irmãos verdes,
É com muito orgulho que mais uma vez compartilharei do peso de nossa camisa com vocês. Que nossa cor seja fundida a dos gramados e dessa composição se extraia apenas a linguagem da bola e da camaradagem, este último o principal trunfo do PDF frente às demais equipes.
Que nesta edição o clima daquele ano invicto se repita! Se atingirmos a fórmula, não tenho dúvidas: o bi é nosso!
RAÇA, PDF!!!!!”
É com muito orgulho que mais uma vez compartilharei do peso de nossa camisa com vocês. Que nossa cor seja fundida a dos gramados e dessa composição se extraia apenas a linguagem da bola e da camaradagem, este último o principal trunfo do PDF frente às demais equipes.
Que nesta edição o clima daquele ano invicto se repita! Se atingirmos a fórmula, não tenho dúvidas: o bi é nosso!
RAÇA, PDF!!!!!”
Luiz, Chico, Gustavo, Anderson, Pedro Paulo e Cazuza, meu nobre capitão, este ano não dividirei mais o gramado com nenhum de vocês. Mas a mensagem principal do e-mail segue intacta: compartilharei do peso da camisa com cada um. Ontem, hoje, amanhã e eternamente.
Um forte abraço,
Rafael Sotero.
A sensação entre os jogadores do PDF não pode ser outra que não de deja vu - na primeira rodada do ano passado perdemos um companheiro por uma lesão idêntica. Não bastasse a limitação numérica de nosso plantel e as já famosas mazelas pulmonares de que foram acometidos vários de nossos jogadores, ainda temos de conviver com a insistência das lesões.
ResponderExcluirPor isso mesmo o PDF entrou hoje com uma ação judicial contra o Clube Líbano pela péssima qualidade de seu gramado - completamente recortado - que pode colocar em risco a saúde atlética não apenas dos nossos - mas principalmente dos nossos - jogadores.
O PDF informa também que vai disponibilizar para Rafael um tratamento medicinal à base de ervas ainda proibidas em território brasileiro.
Rafinha meu! Fica tranquilo. Depois do gesso, continuo aceitando "desculpas pra um abraço ou um consolo". Ano que vem, você faz o meu gol.
ResponderExcluirLuiz, o tratamento à base de ervas medicinais deve ser compartilhado com todo mundo que também foi afetado pelos dramas do pé lesionado: sem festa à noite e sábado miado na emergência do Unimed.
Pra não deixar o garoto tão triste, mantenho a promessa de um gol fera na Patrícia Poeta! Agora, para o DPC. Hehe
O meu sentimento está todo com você, grande Rafael. Se antes nosso esforço para superar excesso de peso, perda de massa pulmonar e o acúmulo dos anos de duros golpes sofridos em jogos da CPF já era hercúleo, agora, sem vossa presença e coragem... Faltam-me as palavras. Mas sobrarão atitudes de superação. De força. De raça. RAÇA PDF!
ResponderExcluirSempre.
Uma lesão pode dificultar a trajetória, mas não vai destruir um sonho. E sonho que se sonha junto é realidade.
Não dividiremos o gramado, mas farei o possível para que dividamos a glória da vitória, juntos.
ResponderExcluirEmocionado e sem mais palavras,
Cazuza