POR UMA BOA CAUSA: Depoimento de Cazuza em homenagem a CPF

Quando ouvi o “crec” percebi que o negócio era sério. Assisti ao resto do jogo (o qual, felizmente, vencemos), bebi uma cerveja, fumei dois cigarros e segui para a clínica de fraturas. Tirei o raio-x e entrei na sala do Dr. Morais. Suas palavras encheram meus olhos de uma dor aguada. “Futebol, amigo, só daqui a um mês e olhe lá. Você por pouco não fraturou o pé”. Sem permitir que qualquer protótipo de lágrima escorresse dos meus olhos, deixei minha poesia molhada escorrer através do suor da mão que segurava o andador da cadeira de rodas da emergência.

Trajeto clínica – casa: Silencioso. Passo na frente do Líbano: Ar de riso no rosto.

Em casa, eu sabia que enfrentaria minha mãe. Ela, que me ama demais.

Cazuza, meu filho, o que foi isso?

Jogando na Copa Paulo Francis, mãe. Jogada normal, logo nos três primeiros minutos de jogo, mas tive azar. Agora é assim, doze dias sem colocar o pé no chão e um mês sem jogar bola. Se eu repousar direitinho acho que ainda dá pra jogar o último jogo.

Já não basta te chamarem de ladrão, de bixa e maconheiro? Agora vão te chamar de cavalo manco, meu filho!

Não na Copa Paulo Francis.

E a sua viagem pra São Luís amanhã, meu filho? Suas passagens já estão compradas!

Copa Paulo Francis, mãe.

E a sua faculdade, meu filho?

Copa Paulo Francis.

E o teatro, meu filho? Você tem peça daqui a 15 dias!

Copa Paulo Francis.

E o curso que vai começar semana que vem?

Copa Paulo Francis.

E o tempo, meu filho? O tempo não para!

Nem a Copa Paulo Francis.

E a sua ideologia, meu filho?!

Copa Paulo Francis, Copa Paulo Francis e Copa Paulo Francis.

(silêncio na sala da minha casa.)

Esse vício não tem sentido, meu filho. Fica se vangloriando desse pé trincado... Cheio de prejuízo só por causa de três minutinhos de futebol. Não deu nem pra sentir o gostinho dessa tal copa.

Deu sim, mãe. É a Copa Paulo Francis.

Obrigado ao apoio de todos. Só vocês entendem.

Eduardo "Cazuza"